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5G no setor automotivo: como a tecnologia impacta o trânsito e a indústria

Uma nova geração de internet significa novas possibilidades; fique por dentro das mudanças que estão a caminho.

Uma revolução tecnológica está prestes a desabrochar com a nova geração de internet – a quinta, por isso o nome 5G – que promete transformar ainda mais a vida das pessoas através de algo muito além de um novo aumento na velocidade de conexão. Mas vale destacar que esse aumento não é mero detalhe: a velocidade pode ser até 100 vezes mais rápida em relação à do 4G.

Em termos gerais, as redes móveis operam através de radiofrequência transmitidas a partir de estações-base, que oferecem cobertura a diferentes áreas geográficas, denominadas “células”. Assim, o número de usuários por quilômetro quadrado foi aumentando com o passar do tempo, de modo que agora, com o 5G, será possível alcançar mais de um milhão de conexões numa mesma célula (hoje, esse número está na casa dos 100 mil).

A nova geração fará uso de um espectro de onda superior em comparação às redes anteriores, embora seu funcionamento se dê por meio da adaptação das antenas já existentes, usando as principais frequências entre 600 MHz e 42 GHz.

O 5G também representa a essência do conceito chamado Internet das Coisas (IoT), atribuído à capacidade de interconexão entre diversos dispositivos para além de computadores e celulares.

Internet das Coisas (IoT)

Tecnologia referente à conexão de itens utilizados no dia a dia com a rede mundial de computadores. Por exemplo, cada vez mais temos visto eletrodomésticos, meios de transporte, até mesmo roupas, além de muitos outros objetos cujas informações estão interligadas a celulares, smartphones etc. A IoT é o grande diferencial do 5G em relação às gerações anteriores.

O 5G no setor automotivo

Em coletiva de imprensa no fim do ano passado, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, ressaltou o poder de transformação que acompanhará o 5G na indústria automotiva.

“É uma grande transformação. Vamos começar pelas nossas fábricas, nossos fornecedores. Isso é muito importante para melhorar a eficiência da indústria. Com certeza é um caminho sem volta; o 5G vai trazer uma outra dimensão, e o setor automotivo vai liderar esse movimento.”

De todo o valor que o 5G deverá gerar à economia mundial, aproximadamente 20% está atrelado ao setor automotivo; afinal, não é só de montadoras que a área vive. Peguemos um exemplo de infraestrutura rodoviária, na qual as futuras obras serão incentivadas a instalar, concomitantemente, energia e fibra ótica, impactando diretamente os setores de armazenagem, comércio, transporte e logística.

Dentro dos veículos, a promessa é de uma forte reformulação que engloba reconhecimento facial do motorista e outros dados a se interligarem com as informações do trânsito ao redor, reduzindo o risco de acidentes.

Marcelo Zuffo, engenheiro eletricista e professor do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Universidade de São Paulo (USP), menciona a questão técnica por trás da projeção:

“Na norma de 5G existe todo um capítulo reservado a isso; por exemplo, como o veículo vai dialogar com a infraestrutura urbana (tecnologia V2I), com um semáforo, com a via, como uma placa de ‘Pare’ vai ser uma placa inteligente etc.”

Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Zuffo também destaca que, pela primeira vez desde a versão 1G, uma tecnologia vem sendo aplicada sem que esteja totalmente pronta. Não à toa, o cronograma de implantação de veículos autônomos foi atrasado em função disso, pois chegou-se à conclusão que, antes, é necessário um amadurecimento da tecnologia V2X (vehicle-to-everything – veículo para tudo, em português):

Algumas normas do 5g estão indefinidas, e uma grande promessa no campo da Internet das Coisas é justamente essa peculiaridade do 5g em permitir a ligação ‘machine to machine’ (máquina com máquina). Além da V2X, esperamos muito das tecnologias V2H (veículo para humanos), V2I (veículo para infraestrutura) e V2V (veículo para veículo). São vários ‘Vs’ para alguma coisa.”

Resposta à falta de semicondutores

A partir das novas tecnologias, Luiz Carlos Moraes prevê que o número de chips semicondutores em cada veículo poderá até dobrar. Esse fator ganha ainda mais relevância após a crise de abastecimento que assolou o setor automotivo a ponto de causar sucessivas paralisações nas fábricas, principalmente devido à falta de semicondutores.

Sinais para um futuro próximo

Desde 2016, a Scania estuda e experimenta, a nível global, as possibilidades dos 5G em seus veículos. De acordo com Felipe Angelini, responsável por Soluções Conectadas da montadora, um dos potenciais meios de implementação é a condução em comboio (Platooning).

“Pelo fato do 5G possuir baixa latência de tráfego dos dados, o Platooning permite que o veículo que está à frente compartilhe informações em tempo real de aceleração, frenagem e direção aos outros veículos que estão sincronizados atrás. Essa função permite que mais cargas sejam transportadas de maneira mais segura e eficiente, pois a distância entre os veículos pode ser diminuída, aproveitando melhor a aerodinâmica do primeiro veículo, além de economizar combustível, aumentar a eficiência do transporte e adicionar ainda mais segurança com tecnologias que suportam o motorista”, explica.

Quanto a possíveis falhas de fabricação, Angelini salienta que a qualidade de conexão superior, com maior estabilidade e alta taxa de transmissão de dados em poucos segundos, poderá permitir atualizações remotas nos veículos, algo que a própria Scania já fez. Nesse sentido, a tendência do 5G, segundo ele, é potencializar a segurança no trânsito:

“O 5G irá permitir que veículos transmitam informações extremamente detalhadas entre si, possibilitando aumentar ainda mais a segurança da operação. Um veículo comercial – especialmente o caminhão e o ônibus, por serem altos – acabam limitando a visibilidade de outros motoristas que estão atrás deles. Quando essa comunicação entre veículos se tornar uma realidade, o veículo à frente poderá transmitir informações sobre obstáculos que estão por vir, ou até mesmo dados de frenagem em tempo real para quem está atrás, evitando colisões, por exemplo.”

Por fim, Angelini vislumbra como se daria a implantação da tecnologia 5G a curto prazo:

“Existem basicamente três pontos de atenção na implementação de veículos autônomos: Tecnologia, Infraestrutura e Legislação. Com a tecnologia disponível, o que vemos no curto prazo é a possibilidade de implementação dos autônomos em operações controladas, como mineração, transporte de contêineres em docas, operações cíclicas e em ambientes confinados”.

A iminência do 5G também motivou a General Motors (GM) a desenvolver uma plataforma de sotware de ponta a ponta, chamada Ultifi. Com ela, baseando-se nas funcionalidades de um celular, os condutores conseguirão fazer atualizações, escolher aplicativos e optar pelos recursos mais recentes.

Futuramente, por exemplo, câmeras internas poderão fazer o reconhecimento facial do motorista para dar partida no motor. Além disso, com base no planejamento de rotas via GPS, será possível restringir o limite de velocidade e até comunicar-se com a casa do condutor.

O plano, segundo Isabel Faria, gerente de Comunicação da GM, “é expandir a tecnologia para outros modelos, incluindo veículos conectados da empresa já em circulação, que também se beneficiarão da possibilidade de maior transmissão de dados.”

Redução dos recalls

Várias vezes, você já deve ter lido notícias de montadoras que precisaram fazer um recall – tradução do inglês “chamar de volta – de um certo número de carros. Isto é, determinar que os consumidores que compraram tais modelos comparecessem a concessionárias ou oficinas autorizadas da marca para trocar ou realizar reparos em peças com problemas de fábrica.

Agora imagine se todos os veículos defeituosos tivessem acesso ao 5G. Caso eles precisassem de uma reprogramação no módulo de controle do motor, por exemplo, o serviço poderia ocorrer à distância, em função da própria configuração do sistema.

Projeto na USP

Atentos ao percurso da tecnologia, Marcelo Zuffo e a USP estão conduzindo no momento um projeto totalmente em consonância com o tema. O professor explica:

É um projeto de semáforos 5G, com o intuito de que as pessoas – ou aplicativos – possam conversar com eles no futuro; semáforos com grau de autonomia em relação a controle central. Então, se uma mulher grávida estiver a caminho do hospital para dar à luz, ou se uma pessoa estiver sendo socorrida em uma ambulância, o semáforo se adaptaria a essas circunstâncias. Instalamos dois semáforos nos arredores do nosso Hospital Universitário, justamente para testar a aproximação de ambulâncias. ”, revela Zuffo.

Stellantis e a primeira fábrica automotiva 5G

Em outubro do ano passado, a Stellantis – detentora da Fiat e da Jeep – implantou um projeto piloto com tecnologia 5G na produção de veículos. Desenvolvido na fábrica de Goiana (PE), onde são fabricados os modelos da Jeep – Renegade, Compass e Commander – e a Fiat Toro, a iniciativa conta com o auxílio da Tim e da Accenture.

A rede opera com duas antenas na faixa de 3,5 GHz, obtidas com licença experimental na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Inicialmente, os testes se baseiam na instalação de emblemas nos automóveis por meio de câmeras para averiguar se os símbolos correspondem ao veículo correto, haja vista que os quatro modelos citados se multiplicam em mais de 100 versões.

Essa reportagem também se encontra em nossa revista. Clique aqui para acessar a Balconista S/A – 32ªEdição.

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