A força da mulher no balcão

 A força da mulher no balcão

Quem entra na Itapeças, uma grande loja de autopeças e instalações em Itatiba, cidade do interior de São Paulo, nem imagina como tudo começou. Foi em meados de 1980 com Francisco e sua pequena venda de autopeças que, depois de muitos anos de trabalho duro, viraria a maior e mais completa loja do ramo na cidade. Por ali, as mulheres estão muito presentes: Neide Delforno, esposa de Chiquinho, comanda o espaço, sempre com a presença e o trabalho fundamentais de sua filha Carolina Canal e sua tia Silvia Delforno que, atrás do balcão, são as protagonistas, responsáveis por receber, com um sorriso doce, cada um dos clientes e curiosos. Como nós.

Neide se viu, de repente, à frente da loja quando o companheiro faleceu, há 10 anos. Entre as peças, carros, planilhas e clientes, ela começou a administrar os negócios, e fala com muito orgulho de toda a representatividade que a loja, por meio do esforço da família e dos funcionários, conquistou na cidade. O prazer em ir trabalhar, e poder ter a presença das duas parceiras, é evidente, e ela não hesita em mencionar : “A presença das mulheres é muito importante, todo mundo gosta.”

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Da esquerda para a direita: Carolina Canal, Neide Delforno e Silvia Delforno

Silvia, que é também formada em língua portuguesa e administração, está no ramo há 25 anos e fala, com brilho nos olhos, que o que mais gosta na profissão são os clientes. “Nós acabamos conhecendo a vida dos nossos clientes, porque o problema com o carro causa todo um problema pessoal. Então, eles desabafam e enxergam em mim e na Carol toda uma proteção, até por sermos mulheres e termos esse lado feminino que suaviza”, diz ela.

Carolina deixou seu consultório de odontologia para ficar no balcão, algo que ela não havia planejado, mas que acabou tornando-se sua rotina nos últimos dois anos. É com muito orgulho que ela fala do negócio de seu pai, que agora se tornou seu, e de como aprendeu tudo dele ali, na prática mesmo, com seu irmão. Mesmo com pouco tempo, a balconista, que é também administradora da loja, já é muito reconhecida pelo seu trabalho e se sente muito recompensada por isso. “Foi muito marcante para mim o dia que eu atendi um cliente e depois ele voltou querendo ser atendido por mim. Reconhecimento é tudo”, lembra.

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Mas, independentemente do tempo de trabalho, o que é mais marcante na Itapeças é a cumplicidade das três, que quando questionadas sobre a relação familiar e os desentendimentos, sorriem e afirmam juntas, como se tivessem ensaiado, que apesar dos pequenos choques, normais de todas as relações, não se imaginam uma sem a outra. “Compartilhamos muito conhecimento, entre a gente não existe superioridade. Acontece comigo e com a Carol, por exemplo, uma divisão de experiência e um apoio mútuo que não tem preço”, destaca Sílvia.

As balconistas, que também trabalham em inúmeros setores da loja, contam que existe uma batalha diária para mostrar seu potencial, já que ser mulher nesse setor, que é ainda é muito restrito aos homens, é muito difícil. A luta para vencer o preconceito é grande já que, como ressalta Sílvia, “estão sempre duvidando da gente, então temos que lutar para mostrar nossa credibilidade e conhecimento, e lutar muito para manter a autoconfiança, que de vez em quando, mesmo depois de 25 anos, ainda balança”.

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Apesar disso, elas reconhecem que o ramo foi construído assim e que ele está mudando aos poucos. “Os homens são inseguros em relação à gente porque não é comum ter mulheres no balcão, quando falam que sou eu que vou atender eu sinto isso. Entretanto, à medida que você começa a dar as informações concretas eles te olham com mais respeito”, conta Sílvia. Carol ainda completa: “Como eles tem contato com esse ramo há mais tempo, a gente gosta muito de ter a experiência deles. Não me importo de mostrar que sou leiga, os homens conhecem muito e tem muito para transmitir para gente, e também gostam de ensinar. Aprender coisas novas todo dia é muito motivador”.

O maior conselho que Sílvia deixa para a sobrinha, e para todos aqueles que estão começando, é o de sempre se colocar no lugar do outro, seja cliente, fornecedor ou colega de trabalho, e entender que todos são humanos passíveis de erros, que para respeitarem precisam ser respeitados. Além disso, a experiente vendedora ressalta que “gostar do que faz é muito mais importante do que o conhecimento técnico” e que estudar sempre, como Carolina que está fazendo uma pós em administração, é fundamental para renovar as ideias e aliá-las à paixão de vender. Para elas o resultado da determinação e organização aparece ali, na loja cheia, com gente indo e vindo, com clientes satisfeitos, e não existe maior recompensa do que essa.

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