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As várias faces da paralisação na indústria automotiva: como a pandemia impacta o setor

7,8 milhões. Esse é o número de postos de trabalho fechados no Brasil em um ano da pandemia do novo coronavírus, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda que uma parcela desse encerramento de vagas não tenha acontecido por responsabilidade direta dos efeitos do vírus na economia, é inegável o impacto que a doença de proporções globais teve em terras brasileiras.

Antes da Covid-19 assolar o mundo, o nível de ocupação dos cidadãos em idade de trabalhar (com mais de 14 anos) no Brasil girava em torno de 55%. Agora, 48,6% se encontram sem emprego ou fora do mercado de trabalho, também de acordo com último levantamento divulgado pelo IBGE, em 30 de abril deste ano. Os mais variados setores do mercado automotivo sentiram, sentem e sentirão os impactos devastadores da pandemia, que atingiram, inicialmente, as grandes empresas e montadoras.

Em entrevista exclusiva à Balconista S/A, a Toyota citou algumas das ações realizadas para conter o avanço dos efeitos econômicos da pandemia:

“Nos primeiros meses, tomamos diversas medidas, tanto de saúde, para proteger nossos colaboradores, como de busca pela competitividade dos nossos negócios. Algumas dessas medidas foram antecipação de férias, aplicação de dias de compensação, aplicação da MP 936, além de atividades de redução de custo.”

Entre 24 de março e 21 de junho de 2020 – momento em que o vírus da Covid-19 começou a ser disseminado mais intensamente na maior parte do Brasil – a montadora japonesa agiu de forma imediata, suspendendo a produção em todas as suas quatro plantas industriais. A ação teve como objetivo tentar atenuar os riscos à saúde de seus colaboradores e familiares, evitando ao máximo aglomerações e circulação de pessoas. Também foram justificativas para a suspensão o quadro de incerteza do mercado brasileiro naquele momento, bem como as dificuldades na cadeia logística e de suprimentos.

Ao final de 2020, a Toyota havia tido cerca de 135 mil unidades comercializadas, o que representou uma queda de 37% em comparação com 2019. A redução nas vendas, no entanto, foi menos acentuada do que se esperava no início da pandemia. Como referência, o mercado automotivo, de forma geral, recuou 26%.

Com os impactos nas montadoras de automóveis, um setor que, consequentemente, também sentiu efeitos negativos foi o de fabricantes de autopeças, cuja produção é voltada, de 80 a 90%, às fábricas de carros. O ramo passou a trabalhar diante de uma escassez completa de produtos. Os semicondutores e microchips, por exemplo, foram alguns dos principais itens que estiveram em falta no mundo todo.

Quando a disseminação e o número de mortes da Covid-19 estavam começando a dar indícios de queda, ocorreu uma segunda onda da doença no Brasil, o que dificultou um processo de retomada que, no final de 2020, parecia iminente, como explica Flávio Portela, diretor de vendas e comunicação da SK Automotive.

“Entramos em 2021 com uma aceleração vinda de novembro a janeiro, mas em fevereiro veio a segunda onda da pandemia, atacando regiões que antes não haviam sido tão afetadas. E as novas variantes do coronavírus causaram muito mais mortes e muito mais espanto no mercado. Isso afetou todos os fabricantes mundiais de microchips, principalmente os americanos, que produzem para a indústria automotiva. Esses microchips estão dentro de sincronização de motor, troca de câmbio, centrais multimídia, controle de estabilidade, ABS…”

Flavio Portela, da SK Automotive

Os números do mês de março deste ano, por exemplo, indicam como o setor automotivo foi atingido pela segunda onda da pandemia. Mais de 14 montadoras foram paralisadas, o que envolveu 30 fábricas e 65 mil profissionais.

Flavio Portela também aponta como o setor de autopeças vem se comportando diante desse cenário:

“O mercado está muito mais preocupado e trabalhando essencialmente com os veículos que chegam às oficinas e às autopeças. As trocas das peças estão sendo feitas sem elevados estoques. Estão trabalhando apenas com o essencial nesse momento, e esperando uma nova adaptação do mercado para a continuidade e a elaboração de um plano a curto e médio prazo.”

Como se não bastasse o cenário atual – marcado por persistente resistência à retomada e recuperação da indústria -, o anúncio do aumento considerável no preço do aço, feito pela Companhia Siderúrgica Nacional, representou mais um motivo para o agravamento da situação econômica do setor automotivo.

Com a produção de autopeças impactada, as lojas que compram das grandes fabricantes também sentem efeitos negativos. Em Santos (SP), na Sebbá Autopeças, loja onde trabalha o balconista Luiz Fernando de Almeida, os atendimentos passaram a ser por “delivery”, sem previsão de retorno para a modalidade presencial nesse momento. O profissional conta que sua atividade vem sendo muito prejudicada pela pandemia, mas que o sentimento de união no estabelecimento tem contribuído para, ao menos, atenuar o panorama de dificuldades.

Luiz Fernando de Almeida, balconista da Sebbá Autopeças

“A situação ficou bem ruim, estamos de mãos atadas. O atendimento caiu em 50%. Também tem muita falta de peças; muitos fornecedores estão fechando. E, quando encontramos as peças, o preço vai lá em cima. Subiu entre 30% e 60%. Mas, apesar de tudo, não podemos perder a esperança. Aqui, entre os trabalhadores, a gente precisa se unir para sair dessa. Não esperava que a pandemia duraria tanto tempo. Mas, como aprendizado, a lição é que devemos nos preocupar mais uns com os outros, nos apegarmos mais às pequenas coisas do dia a dia, à família, aos amigos, nos unirmos cada vez mais e nunca perder a fé. Eu acordo todos os dias agradecendo, sempre otimista.”

Parte integrante de toda essa cadeia de processos, produtos e pessoas, as oficinas mecânicas foram outro ramo impactado pelos efeitos do novo coronavírus, tendo apresentado uma queda de 15 a 20% de seu movimento. A redução na fabricação de peças afetou diretamente esses estabelecimentos. O atendimento, por ter deixado de ser presencial em diversas lojas, também complicou a compra de mercadorias específicas no setor automotivo, como afirma Marcelo Pazos, mecânico com formação em Engenharia Mecatrônica.

“Senti dificuldade. Teve vez que saí para comprar algumas coisas, peças simples, e tinha muita coisa em falta. Várias lojas ainda não estão com o atendimento presencial, só por WhatsApp. Isso atrapalha bastante, porque existem lojas em que você entra, olha na prateleira, pega, põe no carrinho e vai embora. Mas, quando é por WhatsApp, o funcionário que te responde, e você fica refém disso. Então, olha, está bem complicado, bem chato de comprar atualmente.”

Marcelo Pazos, mecânico e engenheiro

O profissional conta ainda como a falta de peças o atrapalha a realizar projetos em seu dia a dia no trabalho: “Teve uma vez que eu fui à loja porque estava reconstruindo um carro e precisei de um material super comum em loja de fibra de vidro, mas tinha muita coisa em falta. Por causa disso, eu tive que mudar o serviço do meu funcionário, porque não consegui comprar um material para ele fazer o trabalho que estava previsto.”

Em meio aos números que indicam, muitas vezes, não haver motivos para otimismo, algumas estatísticas podem fazer com que se vislumbre um cenário diferente em breve. As vendas de automóveis cresceram, em média, 5,5% no1º trimestre de 2021.

Já a produção de carros teve um aumento de 2%, o que possibilita certa retomada da confiança dos donos de veículos em relação à troca de automóveis, à compra do carro zero e à venda do carro usado. Esta última continua em grande movimentação, tendo crescido 13% no 1º trimestre deste ano, em comparação ao mesmo período de 2020.

Esta reportagem também encontra-se disponível na Revista Balconista S/A – Edição 29. Leia o material completo!

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