Carinho para ir à luta
Com mais de três décadas no setor, o balconista Luís Carlos conta sua história.
A rua 12, do bairro Vicente Pires, é o elo de ligação entre o Pistão Norte e a Via Estrutural, nomes extremamente conhecidos pelos moradores de Brasília (DF). Naquele endereço está localizada a Bradiesel Centro Automotivo e Autopeças, na chácara 129A.
Fundada em 1983, a empresa opera no ramo com ênfase em reposição de peças e componentes para veículos oficiais, de fiscalização, policiais e militares. Lá, o balconista Luís Carlos Ferreira (58), trabalha há 33 anos. Praticamente uma vida.
Mas tudo está de acordo com o que ele sonhava lá atrás. Embora nenhum familiar atuasse profissionalmente no setor, a paixão por carros foi o combustível dessa história – com um aditivo chamado ‘desconfiança’.
“Meu pai gostava de mexer no próprio carro. Sabe aquela coisa de não confiar nos outros por medo de “ser passado para trás”? Então, sempre que ele precisava ajustar uma coisa ou outra, eu estava ali ajudando. Podia ser apenas uma pecinha, eu estava junto. Até hoje eu tenho o maior prazer em cuidar de carro. Também tenho um grande amor por caminhão; entender para que serve cada peça, essas coisas”, conta.
Para chegar ao balcão, onde valoriza o atendimento e o tratamento zeloso às pessoas, Luís Carlos percorreu um trajeto semelhante ao de vários companheiros de profissão. Primeiro, foi entregador de autopeças; depois, passou pela reposição de estoque, com mais de 4 mil itens para catalogar, guardar e manter um controle rigoroso sobre eles.
Em relação à constante necessidade de atualização e reciclagem profissional devido ao número de veículos novos, nacionais e importados que entram no mercado todos os anos, Luís Carlos explica muito bem humorado:
“Essa é uma questão daquelas: a gente sempre precisa aprender coisas novas, buscar, pesquisar, estudar, fazer curso e no final nunca sabemos nada, tá?! As mudanças são muito repentinas, e dentro de um mesmo ano as peças recomendadas para um veículo recém-lançado podem mudar. Os itens que compõem um carro passam por diversas variações de mês a mês. Então é isso, estamos sempre no aprendizado.”
Segundo ele, um balconista de sucesso deve contar com características primordiais: conhecimento, dedicação, interesse e vontade de prestar um bom atendimento. E o diferencial? Ser feliz com o próprio trabalho, a chave para que tudo seja feito com o máximo empenho.
“Eu tenho vários momentos guardados na memória, sabe? No dia a dia, acontecem várias situações que me deixam feliz. Cada dia eu acompanho a história de algum cliente, de algum carro, e é muito bom poder ajudar. Quando a pessoa chega aqui precisando de uma peça que não encontrou em nenhum outro lugar e eu tenho para oferecer, é muito gratificante. O cliente sai feliz e eu guardo o momento com carinho. Me sinto útil.”
Assim como bater o carro ou notar que uma das luzes do farol queimou são coisas geralmente imprevisíveis, a rotina na autopeças também pode ser uma verdadeira caixinha de surpresas.
“Às vezes somos pegos desprevenidos. Por exemplo, quando estamos concretizando uma venda, abrimos a caixa da peça para mostrar para o cliente e o item apresenta um defeito de fábrica. É inesperado, mas acontece. O cliente fica desconfiado e a gente, frustrado, então precisamos saber contornar a situação. Pegar outra peça nova rapidamente, essas coisas… Evitar aquele ‘climão’, sabe?”, relata Luís Carlos.
O avanço da profissão por dois caminhos: mulheres e tecnologia
Foi-se o tempo em que era raro encontrar mulheres em autopeças e oficinas mecânicas. Valores que se consolidaram na sociedade, entre eles o machismo, ajudaram a enquadrar a relação com os carros – profissional ou não – como algo exclusivamente masculino. Nos últimos anos, porém, temos presenciado mudanças cada vez mais visíveis.
“Hoje o público está muito bem dividido. Arrisco dizer que, pelo menos na Bradiesel, está em 50% para cada. No final do dia, sinto que atendi o mesmo número de homens e mulheres. As mulheres estão mais informadas sobre o assunto, mais independentes e fazendo mais questão de cuidar do próprio veículo. O que é ótimo, não é?”, avalia Luís Carlos.
Agora, levando em consideração as mudanças tecnológicas dos últimos anos, como a digitalização da informação, o trabalho parece ter ganhado fôlego. Isso porque os imensos livros-catálogos passaram para a tela do computador, tornando-se uma afiada ferramenta de busca, que permite um atendimento mais rápido e facilita o pedido de peças que estão em falta.
“Essa mudança ajudou demais, facilitou a nossa vida. Antes era preciso olhar o catálogo de cada montadora para localizar o item; depois, verificar no estoque se tínhamos em loja. Caso contrário, era preciso ligar na central para efetuar o pedido e aguardar alguns dias até a chegada do produto. Agora não, com alguns cliques a gente já resolve tudo e, se faltar alguma peça, em duas horas no máximo tem um motoboy entregando aqui. Ficou muito mais prático”, relata.
Luís Carlos também defende o uso de aplicativos dentro do universo automotivo, seja para um serviço de entrega, para tirar dúvidas, ou para avaliar o atendimento de determinado local.
“É a evolução. Acredito que, mesmo sendo através dessas ‘telinhas’ [dos smartphones], isso nos aproxima um pouco. Tudo fica mais acessível.”
Por fim, quando questionado a respeito da primeira coisa que surge em sua cabeça ao pensar o amor pela profissão, Luís Carlos responde com convicção:
“Dedicação e empenho. Temos que ir à luta. Todo mundo precisa trabalhar, não é? Construir seus sonhos, se sustentar… Então, se for para fazer alguma coisa, que faça com carinho. Isso vale para tudo, dentro e fora do balcão”, arremata.
Esta reportagem também se encontra na Revista Balconista S/A – Edição 34. Clique aqui para ler o material completo.
Compartilhe