Sua relação com carros começou bem cedo. Filho de caminhoneiro, Paulo Roberto se acostumou a uma vida repleta de esperas por férias do colégio. Tudo porque, nesse período, ele poderia enfim largar a mochila cheia de livros e embarcar em longas viagens com o seu pai. “Ele viajava muito, então o via uma vez por mês. As coisas eram difíceis”, explica o balconista. Foi em uma das aventuras a bordo do caminhão que uma proposta surgiu, a mudar sua história por completo. “Eu preciso de um ajudante”, disse um conhecido do pai, que logo olhou o menino e o convidou para trabalhar.
“Eu comecei de baixo. Antes de ir pro balcão carreguei muita peça. Não sabia nada. Tudo o que eu aprendi foi graças a um senhor chamado Zé”. “Seu Zé” o ajudou a entender a utilidade de cada produto. Tudo o que ia vender, ele vinha e explicava. Junto com os ensinamentos absorvidos diariamente, vinham também os desafios. Quase como a colocar à prova tudo o que aprendia, Paulo era obrigado a enfrentar de frente a má fé de compradores. “No começo, todo mundo quer tirar um sarro de você. Era quase habitual me perguntarem por peças que não existem. Eu tive que aprender com isso”.
Cinco anos após sua chegada ao balcão, ela já conseguia entender todo o sistema de atendimento. Os sufocos de antes finalmente foram eliminados, graças à forma como aprendeu a observar as peças. Virar, sentir, tocar. Essa era a sequência aprendida. Cada movimento com as peças em mãos era necessário para compreender a singularidade do instrumento. Ao analisar a geração de hoje, ele argumenta que “ainda tem muita gente que acredita na ideia de que ser balconista é fácil. No entanto, esquecem que para ser balconista é preciso, no mínimo, saber reconhecer uma peça sem a ajuda de um computador”.
A crítica de Paulo, por mais provocadora que seja, reflete uma preocupação com o futuro do próprio varejo automotivo. “O que acontece se uma pessoa etiqueta uma peça errada? Ela vai ser vendida errada. É preciso conhecer para vender”. A preocupação também revela outra etapa do comércio: a atenção para a necessidade do cliente. “Geralmente o cliente nunca sabe ao certo o que vai comprar. A grande tarefa é você descobrir o que ele precisa, e o ajudar ao máximo”. De acordo com ele, foi a partir desse espírito solidário que encontrou a paixão em ser o profissional que é hoje.
Aos 48 anos, o balconista comemora 30 anos de carreira este ano. Seja com clientes ou com parceiros, a união fraternal é definida como essencial para que, ao longo dos anos, ele se destacasse na área de vendas e alcançasse a posição de gerente. Um desses casos está presente na relação com o mecânico Gilberto. Desde a venda de um para-choque, há 15 anos, ambos mantém uma relação de fidelidade comercial e fraternal. De acordo com ele, são nesses casos, que “além de clientes, eles se tornam amigos”.
Mesmo com esses laços, o receio de não alcançar os seus objetivos em vendas sempre o sondou. Coordenar uma equipe e fazer com que ela trabalhasse a fim de um mesmo propósito foi uma lição a ser aprendida. “Não alcançar uma meta que te dão, pra mim, é o maior fracasso que um balconista pode cometer. Se te dão toda a estrutura que pede e não consegue devolver o apoio que teve, o erro realmente foi seu”.
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Ainda assim, mesmo que pareça assustador, Paulo assume que a maior solução nestes casos é a força de vontade. “Em tudo o que vai fazer na vida, se tiver vontade, você vai longe”. A mesma ideia, ele repassa adiante. “É o que eu falo para os meus funcionários. Eu não vou ficar pra eternidade, vocês tem que pegar o que eu construí e garantir o de vocês”.
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