Após séculos de degradação ambiental, o mundo agora se volta para medidas sustentáveis em diversos setores da sociedade, inclusive dentro das indústrias automotivas e de autopeças.
Não faz muito tempo desde que a sustentabilidade virou pauta nos mais diversos setores da sociedade e da economia. As preocupações ambientais começaram, especialmente, após as Revoluções Industriais, em cujos processos de fabricação geravam grandes impactos ao meio ambiente.
Desde então, ligado o sinal amarelo, tais práticas passaram a contar com medidas mais sustentáveis, isto é, menos danosas à natureza.
No setor automotivo e de autopeças, essa necessidade também se impôs. Com o advento da atual Constituição Federal, em 1988, foram criadas novas regras para a Legislação Ambiental Brasileira, que as indústrias deveriam seguir nos processos de produção e descarte dos seus objetos fabricados.
As preocupações com os processos produtivos de automóveis dentro das fábricas, bem como seu descarte adequado, começaram após a ISO 9000. Esse termo se refere ao conjunto de normas que visam a ajudar as empresas a implantar procedimentos e gestão de qualidade.
No entanto, foi só a partir da ISO 14000 que a gestão ambiental nas empresas e fábricas passou a ser, de fato, discutida; consequentemente, vieram normas ambientais mais rígidas.
No caso das montadoras, uma delas diz respeito ao cumprimento da Pegada de Carbono, sistema que, basicamente, contabiliza a quantidade de CO2 emitido tanto na construção do espaço – incluindo árvores desmatadas no terreno – como durante seu funcionamento, e até mesmo no transporte de cargas. Assim, de alguma maneira, a montadora precisa compensar o que lançou na atmosfera.
De acordo com o engenheiro mecânico e professor da Universidade de São Paulo (USP), Marcelo Augusto Leal Alves, a partir da ISO 14000, quem descumprisse as regras passaria a estar sujeito a multa.
“Existe uma Legislação Ambiental para descartes de materiais, resíduos, fluidos e precisa ser seguida”, afirma.
Somando-se isso à crescente exigência por parte da sociedade em prol de uma produção mais sustentável na medida do possível, Marcelo Augusto cita alguns exemplos desse tipo adotados pelas indústrias, desde o processo de produção de automóveis até o descarte.
“Uma montadora de automóveis vai se preocupar com a sua emissão de carbono desde a montagem do veículo, mas também vai trabalhar junto com o fornecedor dos pneus para garantir que o processo de fabricação dele, desde a borracha, seja mais limpo. Toda a cadeia vai trabalhar em conjunto para reduzir a emissão de gases de efeito estufa”, destaca.
Além disso, o engenheiro afirma que o descarte do veículo se tornou uma grande preocupação das montadoras. Agora, elas estudam como o automóvel pode ser reutilizado após o fim de sua vida útil.
“As indústrias passaram a ser responsáveis pelo descarte; no entanto, o custo desse processo é elevado para empresa, já que é necessário dobrar a área de produção e transformá-la em uma área de tratamento do automóvel que será descartado.”
Ainda que esse processo seja ao mesmo tempo positivo para o planeta e à reputação da empresa, Marcelo Augusto considera que, devido ao custo elevado, esse valor acaba direcionado, na maioria das vezes, para o consumidor de carros novos.
No caso da reciclagem das peças e do veículo ao término da vida útil, trata-se de uma visão um tanto romantizada. Isso porque, para que haja esse processo nas indústrias, o proprietário do automóvel deverá levá-lo até o local. Porém, não é preciso ir muito longe para ver qual o destino de veículos e peças automotivas: basta ir ao ferro velho mais próximo, onde viram sucata.
“Essa questão precisaria ser resolvida entre o poder público em conjunto com as indústrias, porque acaba se tornando um problema ambiental”, reflete Marcelo Augusto.
Dentro da ISO 14000, estão vários itens, entre eles a ISO 140001, que especifica os requisitos do Sistema de Gestão Ambiental (SGA), ajudando a fortalecer qualidades para que a empresa desenvolva uma estrutura de proteção à natureza.
Algumas montadoras seguem tais normas – entre elas Fiat, Nissan Toyota. O mesmo ocorre em relação a determinadas indústrias de autopeças, como a Schaeffler.
Alejandra Zanella, gerente de Recursos Humanos & SEHS da Schaeffler, reitera que a empresa adota medidas sustentáveis para além do processo de fabricação das peças, o que lhe garante um lugar entre as 50 líderes em Sustentabilidade e Clima na ONU.
“Trabalhamos com metas de curto, médio e longo prazo, implementando medidas para eficiência energética e aquisição de energia de fontes renováveis até 2024. Também buscamos ser neutros em carbono até 2030, com base no Programa Schaeffler de Proteção ao Clima para redução de emissões de CO2 na produção, visando reduzir em 20% o abastecimento de água doce até 2030”, enumera.
Além dos objetivos acima, a Schaeffler aplica em seu cotidiano as medidas sustentáveis citadas pelo nosso outro entrevistado, como a reciclagem.
“Os resíduos gerados na produção passam por um processo de separação interna, levando em consideração e avaliando continuamente os 6R’s da sustentabilidade (reduzir, reutilizar, reciclar, reparar, repensar e reintegrar) e buscando a melhor forma de aplicar a economia circular em nossos resíduos. A Schaeffler também desenvolve parceiros que trabalham para o retorno dos resíduos à cadeia sustentável, atuando em conjunto com as indústrias automotivas (seus clientes) garantindo a sustentabilidade no produto final”, declara a gerente de recursos humanos.”
Além disso, Alejandra enfatiza que nenhum lixo ou resíduo produzido pela Schaeffler é enviado ao aterro sanitário da cidade, pois todo o material tem uma destinação sustentável: são encaminhados para reciclagem, coprocessamento ou incineração.
“Cada colaborador é parte deste processo; por isso, incentivamos constantemente a separação correta dos resíduos para reciclagem, o uso consciente da água, a doação do óleo de cozinha, entre outras boas práticas do dia a dia”, salienta.
Acompanhando o crescimento das práticas sustentáveis dentro das indústrias automotivas e de autopeças, Marcelo Augusto acredita que, mesmo com os percalços econômicos de cada país, trata-se de uma tendência consolidada.
“Eu diria que esse processo hoje é irreversível, por conta do que temos visto no cenário internacional, com vários países entrando em acordos para investir em sustentabilidade. A tendência é que isso se torne cada vez mais importante e se torne um padrão em todas as indústrias, não só do setor automotivo”, assevera.
Alejandra segue a linha do engenheiro mecânico, ressaltando a evolução em curso.
“Não há como pensar em futuro sem pensar em sustentabilidade, pois toda e qualquer ação do nosso dia a dia, seja em âmbito profissional, como na vida pessoal, impactam no nosso amanhã, além do uso de fontes renováveis que deve sempre ser considerado em todas as iniciativas.”
O prognóstico de Marcelo Augusto está diretamente relacionada a um estudo global da consultoria KPMG, com mais de 1,1 mil líderes do setor automotivo. A pesquisa apontou que 98% dos executivos que atuam em trinta países apontam a sustentabilidade como um fator que direcionará os negócios da indústria automotiva nos próximos anos.
Diante disso, ainda que a sustentabilidade já esteja integrada a boa parte das ações das montadoras, resta um longo caminho a ser percorrido, especialmente no Brasil. No entanto, como bem disse Marcelo Augusto, a tendência é que essa prática ganhe força na medida em que a discussão ambiental aumenta sua relevância.
Por outro lado, o nível de exigência requer certa pressa; afinal, “aumenta a cada dia o número de consumidores conscientes que optam por produtos que garantem a sustentabilidade”, conclui Alejandra.
Esta reportagem também encontra-se disponível na Revista Balconista S/A – Edição 29. Leia o material completo!
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