Encontro de gerações

 Encontro de gerações

Apego-Car é o nome da loja de autopeças em que trabalham Antônio e Rodrigo Aparecido de Souza, pai e filho, no bairro do Itaim, em São Paulo. Apesar de os dois não se desgrudarem há muito tempo, esse tal apego no nome não vem daí. Apego-Car é a abreviação de AutoPeças Gomes de Carvalho, loja que seu Antônio abriu lá nos anos 80, onde tudo começou – pelo menos para o Rodrigo. O menino tinha só 5 ou 6 anos de idade quando tomou o gosto pelo balcão. “Desde pequeno ele era viciado em ficar aqui. Se tirasse ele de perto do balcão ele chorava”, explica o pai.

Tamanha paixão não podia ser deixada de lado. Aos 11 anos, Rodrigo já gastava algumas horas na loja, aprendendo principalmente a lidar com o estoque. “Eu comecei aprendendo essa parte, assim foi o meu primeiro contato. Aprendi como guardava a peça, conferia os produtos que chegavam e, com isso, o conhecimento sobre peças em geral chegava naturalmente”, diz Rodrigo. E bota naturalmente nisso. Na época, com mais de 30 e funcionários e 12 motoboys para coordenar, Antônio não podia dedicar todo seu tempo para ensinar ao filho.

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“Como todo mundo, de vez em quando a gente debate, discute, mas sobre coisas de trabalho, coisa saudável. Depois das 18h já estamos nos abraçando e beijando de novo”.

“O jeito era aprender o observando, ninguém podia parar para te explicar. E aprender sem internet, tudo na caneta”, explica Rodrigo. E nessa época, vai dizendo o pai, como a loja era longe demais da casa onde a família morava, eles acabavam dormindo lá mesmo. “A gente tinha um espaço no escritório para dormir e só voltava para casa no final de semana. Aí não tem jeito de não aprender, não é? Dormindo no meio das peças”, relembra Antônio, de bom humor.

Depois de seu período no estoque, Rodrigo foi promovido. Quando completou 14 anos, o pai tirou sua carteira profissional e o registrou na empresa. “Já que ele gostava mesmo, resolvi incentivar. Receber o salário, começar a dar valor naquilo, fazer parte”. Pouco tempo depois Rodrigo já estava onde queria desde criança: no balcão. Desde então, pai e filho nunca mais se separaram. “Como todo mundo, de vez em quando a gente debate, discute, mas sobre coisas de trabalho, coisa saudável. Depois das 18h já estamos nos abraçando e beijando de novo”, conta o filho.

Esse relacionamento, aliás, é um dos principais desafios para quem trabalha em família. Rodrigo reconhece que, por ser filho, às vezes age de um jeito que não agiria caso seu patrão não fosse seu pai. “Teve uma época, quando ele era mais novo, muito tempo atrás, que a gente não estava se dando bem e eu disse: ‘se for assim, prefiro que a gente não trabalhe junto e continue sendo pai e filho, amigos’. Para mim, a família vem sempre em primeiro lugar. Nada pode substituir, nem dinheiro, nem trabalho, nada”, diz o pai.

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“Meu pai me ensinou a ter a malícia, a saber agir com os clientes, já que nem todo mundo é igual. Mas se tem uma coisa que eu aprendi mesmo é que não existe ‘não dá’. Meu pai sempre me ensinou que existe solução para tudo”.

Seja lá como for, para ambos, o mais importante é o aprendizado de cada dia. Para o filho, o pai é um dicionário ambulante. “É impressionante como ele sabe, só de bater o olho, que peça é, que ano é, para que carro é, as variações dela”, explica o filho, sem deixar de citar o principal: “Isso sem falar no que eu aprendi como vendedor. Meu pai me ensinou a ter a malícia, a saber agir com os clientes, já que nem todo mundo é igual. Mas se tem uma coisa que eu aprendi mesmo é que não existe ‘não dá’. Meu pai sempre me ensinou que existe solução para tudo”, conta Rodrigo.

Para o pai, a escola com o filho também é diária. O principal destaque, ele diz, é na parte tecnológica, é claro. “Eu, como muitos da minha época, preferi investir no jovem e acabei deixando de aprender muita coisa, mas agora estou correndo atrás, estou muito mais antenado”. Entretanto, não é só sobre computadores e celulares que o pai aprende com o filho. “A gente aprende todo dia, até com um bebê, que levanta e cai, que faz suas ‘trapalhadas’, a gente aprende. O pior ignorante é aquele que acha que sabe de tudo”, conclui.

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