A estrada que vai na contramão

Imagine você dirigindo o seu carro e, de repente, perceber que está na contramão? É isso o que acontece com alguns motoristas que transitam do município de Bonfim, em Roraima, para a cidade de Lethem, na Guiana, país vizinho do Brasil. Mesmo lado a lado, cada cidade carrega um sistema rodoviário completamente diferente do outro. De um lado, o Brasil com a mão francesa. Do outro, as estradas guianenses com mão inglesa. É aí que, para muitos, a confusão acontece.

Guiana Inglesa Curiosidades

O encontro dos dois tipos de via surge nos primeiros quilômetros da BR-401 em terras vizinhas. Após a ponte do Rio Tacutu (oficialmente Ponte Prefeito Olavo Brasil Filho) transportar os veículos sobre o rio que separa os países, um viaduto de conversão convida condutores a enfim trocarem os lados, dando a quem não está acostumado a sensação de estar indo no sentido contrário aos outros carros.

A primeira visita da turismóloga Jordana Cavalcante, de 33 anos, a Lethem foi por um motivo bem comum entre brasileiros: compras. A princípio parecia fácil encarar os 133 km de estrada, já que boa parte do percurso de duas horas seria composto pela longa BR-401, que a levaria até a fronteira. O que Jô não esperava, era se deparar com a inversão de mãos já nos primeiros pedaços de terra no país estrangeiro.

“Quando passei pela ponte, me deparei com uma bifurcação que num instante me conduziu para a mão esquerda”, explica. “Na hora que você muda, por mais que tenham placas, você realmente fica com uma sensação de que, de repente, um carro vai vir e bater de frente com o seu”. Apesar da estranha primeira impressão, as novas visitas a acostumaram a diferença. Logo, a experiência em terras estrangeiras a inspirou a criar o seu próprio blog, Jô Viajou, onde, por textos e vídeos, conta suas aventuras pelo Brasil e pelo mundo.

Agora você deve estar se perguntando: mas por que essa diferença de sentidos? A diferença existe por uma questão básica. Com a colonização da Inglaterra, as estradas guianenses receberam a mesma estrutura presente nas britânicas. Assim como parte dos países colonizados pela Inglaterra, a Guiana mantém até hoje essa herança cultural.

Como surgiu a mão inglesa?

Tudo começou na própria Idade Média, quando os principais “veículos” da época eram os cavalos. Naquela época, cavaleiros usavam o lado esquerdo das vias, pois a maioria deles eram destros e precisavam deixar a mão direita livre para empunhar suas espadas. Com o tempo, esses só substituíram seus alazões por automóveis mantendo assim a tradição.

Atualmente, 65% do território global trafega pela direita. Essa prática surgiu basicamente porque Napoleão Bonaparte, no século 18, decidiu converter a mão. Por ser canhoto, ele determinou que toda a França deveria circular em direção contrária. Com as colonizações, a mão direita se propagou para outros países. No entanto, a ideia chegou ao Brasil muito mais por uma questão industrial.

Com a vinda de fabricantes americanos, como a Ford e a GM, o Brasil só regulamentou essa ideia no dia 24 de julho de 1928. No começo dos anos 20, ambas já fabricavam seus veículos por aqui com volantes do lado esquerdo. Isso porque ambas seguiam os moldes do seu próprio país de origem, que desde 1792, seguia a ideia da mão francesa como forma de destacar sua independência em relação a Inglaterra.

Apesar da inteligente estrutura criada, a cidade de Lethem praticamente não dispõe de ruas pavimentadas. Transportes públicos de massa também não existem, e não é permitida a entrada de veículos de carga ou de transporte de passageiros. O manauense Leonardo, criador da ManausTur, realiza continuamente excursões para brasileiros que desejam fazer compras na pequena cidade da fronteira. Apesar do transporte em um confortável ônibus de viagem, ele é obrigado a deixar os aventureiros na fronteira, onde, a partir dali, são obrigados a contratar os serviços de táxi do país destino.

“A gente segue pelas estradas brasileiras até a última cidade, Bonfim. Chegando lá, nossos clientes tem que pegar um táxi que os leve até a Lethem”, explica o empresário e motorista. Isso acontece porque, até o momento, não existe um acordo diplomático entre os governos. Ou seja, o melhor jeito de chegar lá ainda é de carro.

Ao pensar nisso, pedimos para a Jordana dar um conselho para os aventureiros de primeira viagem. “O meu conselho é, basicamente, ter segurança ao volante. Fique atento, ande devagar e tenha cuidado. Caso não se sinta confortável com a mão inglesa, passe o volante para outra pessoa. É normal ficar inseguro” Apesar disso ela destaca um ponto positivo. “A parte boa é que, com o tempo, todo mundo se acostuma”.

Diferenças entre os dois tipos de direção

Pela direita (mão francesa)

  • O tráfego na direção oposta vem da esquerda;
  • A ultrapassagem é feita pela esquerda;
  • As rotatórias são circundadas no sentido anti-horário;
  • As placas de trânsito se situam, majoritariamente, no lado direito da via;
  • O volante se localiza do lado esquerdo e o motorista troca de marcha com a mão direita.

Pela esquerda (mão inglesa)

  • O tráfego na direção oposta vem da direita;
  • A ultrapassagem é feita pela direita;
  • As rotatórias são circundadas no sentido horário;
  • As placas de trânsito se situam, majoritariamente, no lado esquerdo da via;
  • O volante se localizam do lado direito e o motorista troca de marcha com a mão esquerda.
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