Fórmula 1 e Rio de Janeiro: por que o torneio não emplacou na cidade?

 Fórmula 1 e Rio de Janeiro: por que o torneio não emplacou na cidade?

Objeções de ambientalistas e irregularidades nas obras são alguns dos motivos que interromperam a transferência do GP do Brasil para a capital fluminense.

A história da Fórmula 1 no território nacional deixa sua marca registrada nas pistas do autódromo de Interlagos, em São Paulo, há décadas. No entanto, em 2020, o governo do Rio de Janeiro manifestou grande interesse em levar o GP do Brasil para a Cidade Maravilhosa. 

Ainda que surpreendente, o fato de o Rio servir de palco para os carros da F1 não seria novidade alguma. Afinal, lá estava o tradicional autódromo de Jacarepaguá, inaugurado em 1967, e fechado totalmente em 2012.

Os pedidos por uma pista mais adequada partiriam após alguns importantes pilotos e dirigentes automobilísticos locais constatarem riscos envolvidos nos circuitos citadinos, cuja estrutura tinha claros limites para esse tipo de corrida.

Jacarepaguá passou a abrigar a modalidade em 1978, após reformas no chamado Autódromo Nova Caledônia (antigo nome do local).  O novo traçado tinha 5.031 km de extensão, percurso que na época chamou a atenção dos pilotos, devido à interessante variedade de curvas e retas.

Lá, ocorreram os Grandes Prêmios do Brasil de 1978 e 1981 a 1989.

Obras no Autódromo de Jacarepaguá

Fim da F1, interdição e busca pela retomada

Certos episódios, porém, encerraram a passagem da F1 pelo Rio, que passou o bastão para São Paulo como sede única, em 1990, pelas pistas de Interlagos. 

Citaremos três ocasiões que culminaram no estopim para a decisão. Primeiro, a morte de um espectador após queda de parte das arquibancadas; segundo, o acidente durante os treinos de pré-temporada que deixou o piloto francês, Philippe Streiff, tetraplégico. E, por fim, problemas relacionados à revista de alguns torcedores. 

O autódromo carioca seguiu recebendo eventos automobilísticos, como Stock Car, Fórmula 3 Sul-Americana, CART, além da Moto GP, até seu fechamento definitivo em 2012, quando o espaço foi destinado a obras para a Olimpíada 2016.

De lá pra cá, o governo do Rio, em suas diversas gestões, bem que quis resgatar o GP Brasil, embora boa parte das tentativas não fossem tão à frente.

No entanto, em 2020, a iniciativa tomou novas proporções. Isso porque líderes da prefeitura, junto ao Palácio da Guanabara, contaram com apoio do governo Federal ao oficializar o interesse em resgatar o torneio.

Ali, foi assinado um termo de compromisso para a construção de um novo autódromo no bairro de Deodoro, zona oeste da capital fluminense. Porém, novos impasses vieram à tona.

Carro de F1 Na pista

Impactos ambientais

Explicaremos aqui os obstáculos. O local escolhido para a construção – um terreno cedido pelo Exército – compreende parte do ecossistema da Floresta de Camboatá, considerada também um refúgio de aves da espécie Saíra-sapucaia, que migra para o sudeste brasileiro todo inverno.

Desde então, o Movimento SOS Floresta do Camboatá e o Ministério Público do Rio (MP-RJ) vêm fazendo objeções à obra. Além disso, uma das etapas necessárias para viabilizar empreendimentos desse tipo é a realização de uma audiência pública. E ela não aconteceu. 

Somando-se aos apontamentos acima, o Ministério Público Federal (MPF) destacou inconsistências nos trâmites legais do projeto. O MP enfatiza as consequências socioambientais potencialmente nocivas, de modo que não se deve apressar a discussão pública sobre o tema.

Porém, durante reunião ocorrida em outubro de 2020, a organização da F1 apresentou o calendário provisório das corridas de 2021, incluindo o circuito do Rio de Janeiro, mesmo antes do início das obras, em decisão bastante controversa.

Vale lembrar que, além dos ambientalistas e dos MPs, o piloto multicampeão Lewis Hamilton – principal nome das pistas – mostrou-se contra o projeto.

Vitória de São Paulo

Em meio a um cenário carregado de interesses, o governo de São Paulo fez prevalecer o seu. Após reunião com a Liberty Media, anunciou que a corrida – agora nomeada “Grande Prêmio São Paulo” – permanecerá na capital paulista ao menos pelos próximos cinco anos. Enquanto isso, no Rio, no que depender do prefeito Eduardo Paes, a ideia de construir o autódromo de Deodoro morrerá nas belas praias cariocas.

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