Categories: Papo de Balcão

O segredo é a humildade

Alexandre Costa, muito mais conhecido como Galego, tinha catorze anos quando entrou para o mundo das peças. Trabalhava como coletor de materiais recicláveis até que a família Duarte, dona de um ferro velho no Recife, resolveu convidá-lo para ajudar no trabalho diário de organização e recolhimento desses materiais. Era o ano da Copa do Mundo de Futebol de 1982 e não demorou muito para que o Galego começasse a ganhar destaque.

“Eu desmontava carro, separava peças, dividia por setores para dar mais destaque a algumas coisas. Tava tudo uma bagunça e eu organizei, botei a ordem na casa”, explica. Por isso, como ele mesmo diz, os patrões resolveram segurar ele por ali. “Sempre gostei de carro e só esperava uma oportunidade para trabalhar com isso. Quando ela apareceu, agarrei com unhas e dentes”. E agarrou mesmo. Em pouco mais de dois anos o Galego já ocupava um lugar no espaço de onde nunca mais sairia: o balcão.

Mas no começo deu medo, como sempre acontece quando enfrentamos uma nova situação. Ele explica que, nos primeiros tempos de balcão, tinha medo de enfrentar aquela multidão que chegava todo dia para comprar. “Para crescer é preciso, em primeiro lugar, de humildade. Só ela permite que você se desenvolva e alcance seus objetivos. Em segundo é a transparência. Você precisa ser muito claro para não deixar nenhuma dúvida sobre seu trabalho. Confiança é o que todo balconista precisa passar para seus clientes”, diz.

“Para crescer é preciso, em primeiro lugar, de humildade. Só ela permite que você se desenvolva e alcance seus objetivos. Em segundo é a transparência. Você precisa ser muito claro para não deixar nenhuma dúvida sobre seu trabalho. Confiança é o que todo balconista precisa passar para seus clientes”

Quem ensinou tudo isso, Galego faz questão de destacar, foi Gustavo Duarte, que, mesmo sendo poucos anos mais velho que ele, é como se fosse um pai. “É para ele que eu devo tudo. Minha educação, essa vontade de conhecer cada vez mais. Eles são minha família”, explica o vendedor. Do outro lado, o sentimento é o mesmo. Gustavo Duarte Filho, filho do dono e chefe, Galego é um exemplo de profissionalismo. “É impressionante a maneira como ele se dedica por isso aqui. Posso dizer sem medo que ele vive a loja mais do que todo mundo. Só ele sabe onde está tudo, como funciona cada coisa aqui”, conta.

Se na Big Car, o Galego encontrou incentivo para seguir na profissão, nem sempre foi assim. Durante a conversa, se lembra perfeitamente das palavras do tio quando soube que ele havia sido convidado para trabalhar numa oficina: “Lá ele não vai trabalhar, vai é jogar bola de gude”. Galego diz que não sabe porque o tio disse aquilo, mas, de qualquer forma, o destino tratou de mostrar o contrário. “Eu fui muito mais além do que meu tio e muita gente imaginava. Não sou só um vendedor, tenho muito conhecimento geral sobre tudo. O que você falar sobre carro, eu sei”, conta.

“Eu digo que quem entende é o mecânico. Ele é o doutor, eu sou uma espécie de enfermeiro, quem passa o bisturi”

 

Chovia forte no Recife quando uma cliente entrou pela loja e foi direto falar com Galego. O papo demorou um pouco, o produto foi entregue e ele voltou para explicar. “Tenho muito cliente que vem fazer consulta, sabe? Eu digo que quem entende é o mecânico. Ele é o doutor, eu sou uma espécie de enfermeiro, quem passa o bisturi”, conta, de bom humor, mas sem deixar de dizer que, no fim das contas, acaba fazendo também esse papel de consultor. “No fundo é um pouco o papel do balconista. Como eu estou sempre por perto dos mecânicos, dos eletricistas, eu acabei aprendendo muita coisa e, por isso, posso ajudar. Mas os doutores são eles.”

Esse convívio, responsável pelo aprendizado de todo dia, é também o motivo pela alegria da turma. Galego diz que, com o passar do tempo, a equipe se torna uma família, já que passam muito tempo juntos. “Não adianta arrumar briga, trabalhar com mau humor. Você tem que fazer aquilo com prazer. Hoje, faço por prazer, não pensando em dinheiro. Claro que preciso do meu sustento, mas em primeiro lugar é preciso gostar muito daquilo que você faz. É isso o que mais orgulha, saber que faço por amor ao meu trabalho”.

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