Os negócios na fronteira

 Os negócios na fronteira

Trabalhar na fronteira do Brasil e do Paraguai significa, entre outras coisas, que é preciso saber que velas podem ser chamadas, em espanhol, de burrillas. Assim como o pneu é cubierta e a roda é illanta. Essas são algumas das palavras que o Ademir Keller, de 59 anos, precisou aprender para trabalhar na Estrela Autopeças, que fica em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, a cerca de duas ruas da cidade de Pedro Juan Caballero, no Paraguai.

“São duas cidades, dois países, então aqui corre um pouco mais de dinheiro. Tem movimento sempre, não sentimos a crise”

“Quem vem de fora comprar aqui, ainda tem na cabeça que o Paraguai é mais barato, mas hoje, com a cotação do dólar, isso já não acontece mais. O preço do lado de cá, no Brasil, é melhor. Atendo muitos paraguaios aqui”, explica o balconista. O que muda mesmo a rotina de trabalho por ali, conta o Ademir, é o fluxo de compra e venda. “São duas cidades, dois países, então aqui corre um pouco mais de dinheiro. Tem movimento sempre, não sentimos a crise”.

Nascido em Minas Gerais, Ademir foi viver no Paraná, na cidade de Assis Chateaubriand, quando ainda era criança, aos 6 anos de idade. Foi por lá que, desde pequeno, descobriu que sua paixão eram os carros, as peças. Aos 17 anos, deu o primeiro passo para estar próximo do seu sonho com o primeiro trabalho numa oficina. “Quase tive um acidente grave e resolvi mudar”, diz. Passou uma temporada curta numa loja de roupas e então boas novas chegaram aos seus ouvidos: a cidade receberia uma nova loja de autopeças.

 

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Era o final do ano de 1974 quando Ademir foi até lá, bater na porta para ver se havia alguma possibilidade de trabalho para ele. “O dono me disse que já tinha contratado o pessoal todo, mas que eu podia ir ajudar a descarregar o caminhão e receber pelo dia de trabalho”, diz. E assim foi. No dia seguinte, Ademir ajudou a descarregar o caminhão, depois ajudou a desembalar as peças das caixas para organizar toda a loja.

E foi aí que ele fez da dificuldade uma oportunidade. Pouco mais de uma semana depois que os trabalhos tiveram início, a loja perdeu todos os funcionários. “Só eu fiquei. o dono era um cara difícil, complicado, bruto. A paixão me fez enfrentar isso. Eu queria muito ficar trabalhando ali”.

 

“O patrão me disse que se eu vendesse uns 3,5 mil cruzeiros, no primeiro mês, já seria muito bom. Uma semana depois eu já tinha vendido mais de 12 mil”

Assim passaram quase 2 anos quando um novo desafio pintou na sua vida. Com o bom desempenho na loja, seu patrão resolveu expandir os negócios e convidou o balconista a mudar de cidade, para Sete Quedas, onde seria o único responsável por tocar toda a loja. desafio aceito, caminhão lotado, viagem realizada. “O patrão me disse que se eu vendesse uns 3,5 mil cruzeiros, no primeiro mês, já seria muito bom. Uma semana depois, quando ele veio do Paraná para me visitar, eu já tinha vendido mais de 12 mil”, conta Ademir, sem esconder o orgulho do grande feito.

“A minha ideia é trabalhar até os 70, 75 anos. Se eu parar, fico doente”

De lá para cá, o reconhecimento só tem aumentado. Ademir viajou o Brasil trabalhando em diversas lojas, recebendo novas propostas e aprimorando seu trabalho. Hoje, há quase 6 anos na mesma autopeças, ele se diz um profissional realizado. Apesar de aposentado há quase um ano, não faz planos para deixar de trabalhar. “A minha ideia é trabalhar até os 70, 75 anos. Se eu parar, fico doente. Eu gosto é disso aqui, de estar todo dia em contato com as pessoas, atendendo o público e fazendo novos amigos. Tenho certeza de que, hoje, se você tiver vontade e dedicação, essa é uma das melhores profissões que existem”.

 

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