Passado e presente se encontram: o que o terceiro milênio trouxe de novidade na profissão de balconista
21 anos é muito tempo? Para a evolução da humanidade, pouquíssimo. Para um relacionamento, sim. Mas e quando se fala na dinâmica de um ofício? Ao considerar a profissão dos balconistas de oficina e de lojas de autopeças, a resposta é um sonoro “com certeza”. Pelo menos é o que garante Janivaldo dos Santos, de 60 anos, que trabalha há 38 deles como balconista de loja de autopeças:
“Antes tinham só quatro linhas de peças. Hoje há muitas, então ficou bem complexo de trabalhar, porque tem muita mercadoria. No passado, havia só Ford, Volkswagen, Fiat e GM. Atualmente não, existe uma abrangência maior, e para manter um estoque nessa proporção, é preciso muito dinheiro, muito dinheiro mesmo”.
Uma das alterações que exigiu mais atenção na profissão de balconista, de acordo com Janivaldo, ocorreu nas peças que, com o passar do tempo, foram chegando ao Brasil: “As linhas importadas foram o que mais impactaram. A gente não tinha e todo mundo teve que se aperfeiçoar, se adequar àquele tipo de carro”.
O profissional reconhece, no entanto, que as mudanças trazidas pelo terceiro milênio não foram apenas negativas. Ele afirma que a chegada dos computadores e da internet trouxeram mais conforto e facilidades ao seu ofício.
Quem também viveu de perto as modificações que o ano 2000 provocou na área de reparação automotiva foi Alexandre Ribeiro, de 44 anos, balconista e mecânico da Arcar Serviços Automotivos – oficina especializada em veículos de marcas francesas.
Ele conta que quando começou na profissão, em 1988, a maneira de trabalhar era mais mecânica, diferentemente de hoje em dia:
“A gente precisava de muita prática antigamente. Mas era um pouco mais fácil reparar um veículo. Atualmente, a prática também é importante, mas a gente precisa muito mais de teoria porque a evolução da eletrônica nos veículos aumentou muito. É necessário ter mais sabedoria teórica para trabalhar com os veículos de hoje. Não se pode parar de estudar nunca. Tem que estar sempre atualizado”.
Alexandre também garante que, hoje em dia, apenas a paixão por veículos não é suficiente para que um balconista tenha sucesso na profissão: “Não adianta colocar uma pessoa dentro da oficina só porque ela gosta de carro. Agora, o profissional precisa entender as especificidades das peças, o porquê de ele estar vendendo determinada peça ao cliente. Ele precisa saber como ela funciona, como é instalada, para que serve. Isso exige que haja mais estudo por parte do balconista”.
A idade do terceiro milênio – 21 anos – é quase a mesma da de Otavio Ribeiro (22), filho de Alexandre, que trabalha com o pai também como balconista e mecânico da oficina da família. Ele confessa ter observado mudanças na profissão pelo que ouve de seu genitor, e compartilha da visão de Alexandre quando o assunto é a necessidade de se manter atualizado na área:
“Para se destacar, é preciso conhecimento sobre o que você vai passar para o cliente. É necessário explicar tudo corretamente para que ele tenha confiança em você”.
A dificuldade trazida pelos avanços na tecnologia é sentida na pele por Otavio, que adora mexer nos carros e nos produtos destinados a eles, mas encontra alguns obstáculos mesmo em acessórios que não são extremamente atuais: “É um pouco mais complicado mexer no câmbio mecânico. Para mim, ele é mais complexo de entender, pela quantidade de componentes e por seu funcionamento”.
Assim como Otávio, o jovem balconista Gabriel Reigel (25), da Atenas Autopeças, enxerga transformações que vêm ocorrendo e mudanças que necessitam acontecer em seu ofício: “O balcão nunca deixará de existir, mas falta um balcão mais automatizado. Já vejo essa evolução acontecendo na área e torço para que isso seja ainda maior no futuro, pois a tecnologia ajudou a melhorar o atendimento”.
Em meio a gerações diferentes e transformações no ofício, existe um consenso entre Janivaldo, Alexandre, Otavio e Gabriel acerca de duas qualidades indispensáveis para um balconista de sucesso, que dificilmente mudarão ao longo do tempo: o bom atendimento ao cliente e o amor pela profissão.
Esta reportagem também encontra-se disponível na Revista Balconista S/A – Edição 28. Leia o material completo!
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