Resgatado de guincho na hora da compra, hoje ele leva noivas para casar.
Muito prazer, Primeiro Fusca Rosa Placa Preta do Brasil. Por si só isso já seria um feito digníssimo de nota, mas esse automóvel carrega uma história peculiar, com vários outros elementos de destaque, a começar pela sua proprietária: Aline Miranda, 31 anos, administradora e analista financeira, nascida e residente em São Caetano do Sul (SP).
Aline é dona do icônico Volkswagen há cinco anos, mas esse modelo 1967, com motor 1300 de 38 cavalos e carburação única já despertava seu interesse havia bem mais tempo.
“O pai de uma amiga minha era colecionador, e tinha dado para ela de presente. Até pela tonalidade mais pastel – e não um rosa pink – foi algo que sempre me chamou muita atenção”, conta.
Apesar do valor sentimental, a amiga não gostava tanto de carro, de modo que o Fusca amargava longos períodos sem sair da garagem. Assim, o veículo cada vez mais se deteriorava, exibindo vários pontos de ferrugem, até Aline trazê-lo de volta à vida.
“Quem tem carro antigo sabe que duas semanas parado ele já dá problema, imagina quando são anos, tomando chuva e tudo o que você imaginar. Quando comprei, tive que tirar de guincho”, recorda.
Muitas das peças já eram originais do Fusca; então, Aline não precisou fazer tantas alterações nesse aspecto. Foi necessário apenas trocar o volante, a parte interna dos bancos, a tapeçaria, os faróis (pelo tipo ‘olho de boi’) e os pneus diagonais (inserindo os diagonais). Vale lembrar que em 1967 os modelos ainda eram fabricados sem retrovisores do lado direito.
A entrevistada também acrescentou um teto solar Rag Way, uma persiana no vidro traseiro, além da mudança final para se adaptar aos tempos modernos: uma entrada de USB para carregar celular no rádio.
O fato de recorrer ao guincho para buscar o Fusca anunciava que o começo da trajetória de Aline com o automóvel apresentaria irregularidades na pista. Na época sem nenhuma experiência mecânica, ela colecionou episódios lastimáveis durante essa fase.
Alguns profissionais percebiam a falta de conhecimento da nova proprietária – somada à questão de ser mulher – e cobravam mais caro pelos procedimentos. Infelizmente, essa prática não é raridade, e Aline constantemente atravancava nessas mazelas. “Hoje eu investigo muito mais”, garante.
Superada essa etapa, o Fusca ia enfim ganhando a feição almejada pela dona em termos visuais. E quando a placa preta entrou no jogo? Essa era uma das principais metas de Aline, mas, na época, ela acreditava que a cor seria um impeditivo, embora a porcentagem de originalidade do veículo oficialmente já permitisse o emplacamento.
Vale destacar que a tonalidade rosa foi aplicada pelo pai da amiga, lá atrás, quando ele a presenteou. Em 1967, ano de fabricação, não havia Fuscas com essa cor.
“Comecei a ir a eventos de Fusca, conheci as pessoas certas que poderiam me ajudar. Daí o presidente de um clube me disse: ‘Aline, a cor não é o mais importante!’ E realmente, ele já estava dentro do padrão para colecionador”, narra.
Na cabeça de Aline, quando adquiriu o Fusca, ela era a única mulher no mundo a ter o modelo rosa, mas logo percebeu o engano. À medida que divulgava fotos do veículo em sua página pessoal no Instagram, outras mulheres apareciam para interagir, tanto que em 2019 decidiu criar um perfil próprio para o carro: o Fusca Smithers.
Com a visibilidade ainda maior, mais pessoas procuravam o endereço. De fato, não são tantas mulheres donas de Fuscas rosas; porém, isso é relativo. Afinal, nem existem tantos exemplares assim, nessa tonalidade. Seja como for, o número cresceu, e Aline se considera, se não a única, certamente uma das pioneiras do movimento.
“Um dia eu estava num evento, e o pai de uma amiga veio perguntar se eu era a Aline do Fusca rosa, dizendo assim: ‘Você deu uma encrencada lá em casa. Minha filha te segue e passou a querer um Fusca. Agora estou montando um pra ela’. Então isso talvez seja até uma forma de unir famílias”, comenta.
A entrevistada também menciona as frequentes abordagens enquanto trafega pelas ruas, reforçando a capacidade do clássico automóvel para resgatar lembranças:
“Muitas pessoas que entram no meu carro dizem que o avô teve um Fusca, por exemplo, ou gente que me para na rua para dizer que tem ou tinha um Fusca. É assim: o Fusca costuma remeter a lembranças.”
Ao fim e ao cabo, o objetivo com o Fusca é bem claro, e de longe não se reduz à placa preta: contar histórias, criar lembranças e construir novos laços.
“Com o Fusca, mesmo sem querer, a gente cria novas relações. O Fusca é uma máquina de fazer amigos.”
Ao navegar pelo Instagram Fusca Smiths, podemos observar várias fotos do automóvel em celebrações matrimoniais. Esse serviço começou em setembro passado, após pedido de uma amiga de Aline que estava prestes a se casar e gostaria de ser levada à igreja pelo Fusca rosa.
Quando as imagens foram ao ar, impulsionadas por menções e hashtags, muita gente se interessou, perguntando se o carro fazia outros casamentos, quanto custava etc.
“Eu não tinha nem ideia de quanto cobrar. Nunca havia feito isso, só naquela vez porque era minha amiga. Mas resolvi apostar nos casamentos, começando com preços mais baixos. É tão legal fazer parte da história das pessoas, né?”, diz.
Mas o Fusca de Aline ainda traz um diferencial a esse mercado: é a própria dona quem conduz a noiva. Segundo ela, não tem por que outra pessoa dirigir. Além disso, o divertido trabalho de participar de momentos sublimes de amor acaba por render um dinheiro extra para ser reinvestido em manutenção e melhorias do veículo.
“Começou na brincadeira e agora quero seguir. Tenho casamentos marcados para até setembro e outubro de 2023.”
Para conservar a integridade desse bem precioso, Aline segue fielmente as orientações, levando-o às revisões especializadas a cada 6 meses, além de verificar os componentes gerais mensalmente, sobretudo antes das viagens.
Como a parte interna é toda branca, limpezas sempre são parte da rotina; outra tarefa importante é a lavagem a seco, por causa da alta concentração de metal na composição do Fusca.
Recentemente, o lado externo foi submetido a um polimento para manter a cor, que estava desbotada além do conta. Não que desbotar seja ruim, pelo contrário. É até um charme, segundo a proprietária, típico de veículos antigos, mas há limites.
No início da matéria, destacamos que o conhecimento de Aline em mecânica era quase zero. E hoje, como ela se vira?
“Troca de fusível, ajuste em cabo de acelerador ou no carburador quando dá algum atraso para ligar. Isso eu faço sozinha. No geral consigo identificar os problemas; se ele parar do nada, digo ‘acho que é isso, ou aquilo’. Também pretendo fazer um curso na área para aprimorar as técnicas”, finaliza.
Esta reportagem também se encontra na Revista Balconista S/A – Edição 33. Clique aqui para ler o material completo.
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