Raridade Nacional: Chevrolet Amazona

Uma raridade estacionada no Sambódromo do Anhembi. “Você não vai encontrar esse carro em nenhum outro lugar do mundo”, alerta João Valli, o proprietário do veículo. Isso já seria o suficiente para atestar a singularidade do modelo, no entanto, até mesmo em território nacional o carro é especial. “Esse aí é o Chevrolet Amazona 1962, um carro genuinamente fabricado no Brasil, produzido pela General Motors. O interessante é que ele foi fabricado inteiramente com peças de automóveis que já existiam. Além disso, uma outra curiosidade é que ele é o único carro da montadora que apresenta um mapa no símbolo. Nenhum outro, em nenhum lugar, tem isso.”

“Começamos um processo de restauração que levou quase cinco anos, com muita pesquisa e trabalho”

Um dos desdobramentos da linha Chevrolet Brasil, lançada em 1958, a Amazona é uma perua de passageiros para até oito pessoas. Quando introduzida ao mercado, em 1959, foi muito usada por polícias de diversos estados brasileiros, além de ser usada também pelo exército. Inclusive, o próprio carro da família Valli havia sido usado pela marinha brasileira. “Nós encontramos ele aqui em São Paulo. Foi uma pessoa que comprou, deu uma mexida, curtiu um pouco e passou para frente. O antigo dono contou para nós que que o Amazona pertenceu à marinha do Brasil, lá no Rio Grande do Sul. Tinha até umas fotos dele em uma revista, mas como era um automóvel militar, ainda não tinha essa pintura conhecida como ‘saia e blusa’.”

A mudança da pintura foi apenas um dos muitos processos feitos durante a restauração, como conta Rose, mulher de João. “Nós temos ele desde 2008. Logo quando compramos começamos um processo de restauração que levou quase cinco anos, com muita pesquisa e trabalho. O carro tinha, por exemplo, partes da lataria que estavam bastante avariadas. Assim arrumamos grande áreas da carroceria, fizemos todo o interior, como o chão de madeira, toda a parte elétrica, a cromação, além de, claro, a pintura, que é uma das possíveis originais. Já os acessórios, emblemas e peças, como frisos e faróis, estavam bem conservados.”

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Todo o processo de reforma do Chevrolet Amazona foi feito por uma oficina especializada de restauração de carros antigos. Localizada em São João da Boa Vista, a oficina, indicada pelo Clube do Chevrolet, fica a mais de 160 quilômetros de Jundiaí, cidade da família Valli. Ainda assim, eles afirmam que todas as viagens durante os anos de restauração valeram a pena. “É um carro muito antigo, muito difícil de encontrar. Você até encontra bastante caminhonete Chevrolet Brasil, mas assim com a carroceria fechada é muito difícil. Por isso nós achamos que em termos de preservação valia fazer a restauração. E foi essa raridade que rendeu alguns prêmios para ele. Ganhamos um em setembro do ano passado, em Águas de São Pedro, e outro agora em abril, quando disputamos com outros 750 carros em Águas de Lindóia”, contam Rose e João.

“Eu procuro usar bastante. Se o carro fica parado começam os defeitos. Ele é bom de dirigir e muito confortável”

Além do Amazona, a família Valli tem outros dois placas pretas. “Nós temos um Fusca 1976, que meu pai comprou e está desde zero na família. Meu pai ainda é vivo, mas hoje eu que cuido do carro. Além do Fusca tenho também um Chevrolet Bel Air 1953, e uma Blazer 1998. Por isso eu sempre brinco que tenho dois placas pretas e meio. A Blazer está no meio do caminho para ser placa preta, faltam só onze anos. Como eu peguei zero e é o meu carro de uso, vou manter até virar placa preta.”

Enquanto isso não acontece, João, Rose, e Victória, a filha do casal, curtem algumas viagens com o Chevrolet Amazona. “Eu procuro usar bastante. Se o carro fica parado começam os defeitos. Ele é bom de dirigir e muito confortável, então dá pra pegar a estrada tranquilo. Embora a direção seja tradicional, ela é bem leve para um carro que pesa 1.600 quilos. O único problema é que ele não gosta muito de fazer curva, já que é muito alto e o centro de gravidade não favorece muito.”

Agora, o carro que tem motor original 4.3 movido a gasolina, três marchas e seis cilindros já tem futuro definido. “Eu não vou vender. Eu sempre digo que agora é problema da minha filha Victória. Ela tem nove anos, então isso já faz parte do inventário dela. Enquanto isso eu pego emprestado e vou curtindo”, brinca João.

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