Renault Gordini, o famoso “teimoso”

 Renault Gordini, o famoso “teimoso”

Imagine um carro com reputação tão ruim entre os consumidores que ganhou o apelido de “Leite Glória”, marca de leite em pó que tinha o slogan “desmancha sem bater”. Esse era o Renault Gordini, uma versão refinada do Renault Dauphine, fabricado no Brasil pela Willys-Overland. A má fama do veículo surgiu por conta de problemas com a suspensão. Desenvolvida para circular pelas vias europeias, a suspensão do Gordini sofria nas ruas brasileiras. Ainda assim, ele foi o principal rival do Fusca, líder de vendas no Brasil.

Então, como o apelido de “Leite Glória” foi substituído por “Teimoso”? Cinco anos após chegar ao mercado brasileiro, em outubro de 1964, a Willys decidiu fazer um teste para provar ao público a força do modelo. O desafio proposto era circular por 50.000 quilômetros de maneira ininterrupta, parando apenas para trocar os pilotos, calibrar os pneus, abastecer e completar o óleo do motor e a água do radiador. O anel externo do antigo traçado de Interlagos foi o local escolhido para a batalha que o Gordini estava prestes a enfrentar.

O seleto time de pilotos foi formado por: Bird Clemente (primeiro piloto profissional do Brasil), Chiquinho Lameirão, Carol Figueiredo, Geraldo Meirelles, José Carlos Pace (vencedor do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, em 1975, e que hoje dá nome ao Autódromo de Interlagos), Luiz Pereira Bueno, Wilsinho Fittipaldi (irmão de Emerson Fittipaldi), Danilo Lemos, Vitório Andreatta e Vladimir Costa.

No dia 27 de outubro foi dada a largada. O automóvel, um Gordini bege, havia sido escolhido aleatoriamente na linha de montagem. Antes de partir, sem nenhum tipo de preparo especial, ele foi autografado por representantes da Renault, da Willys e do Autódromo de Interlagos. Logo nas primeiras horas de prova, o carro enfrentou chuva forte, que aumentou ligeiramente seu tempo. Para se ter ideia, com pouco mais de 7.800 metros de extensão, o circuito era percorrido pelo Gordini em uma média entre 01’52 e 01’58.  

Porém, foi no quinto dia de prova que o automóvel mostrou porque merecia ser  respeitado. Com o asfalto escorregadio, Bird Clemente entrou rapidamente em uma curva e perdeu o controle do Gordini, que bateu em um barranco. Mesmo com a carroceria danificada, a mecânica permaneceu intacta. Pequenos reparos foram feitos e o carro voltou para pista, para parar de vez somente 22 dias depois! Ao todo, foram 51.233 quilômetros e mais de 150 recordes quebrados, sendo 54 locais, 54 nacionais e 25 internacionais. Com apenas oito dias de prova, a equipa e o carro já haviam quebrado o recorde de maior tempo rodando sem parar.

Naquele mesmo ano, o modelo ganhou uma versão de baixo custo, sem itens cromados, sem revestimento no interior e com apenas uma lanterna na traseira. Para homenagear o Gordini recordista e selar o feito da equipe, a versão ganhou o nome de Gordini Teimoso, que seria produzido até 1967.

Compartilhe