Uma breve história da Simca no Brasil

 Uma breve história da Simca no Brasil

Nossa história é guiada pelo amante de carros Norian Munhoz e ela começa em 1958, ano em que a Simca chega ao Brasil. O presidente da época, Juscelino Kubitschek, estava procurando indústrias estrangeiras para investir nas terras tupiniquins.

“Ele (Juscelino) foi para a França e gostou da marca. Conversando com eles, o governo brasileiro cedeu para a Simca um terreno, em Minas Gerais, para ela construir uma fábrica”, conta Norian. Apesar dos incentivos fiscais, a fábrica, que ficava em Belo Horizonte, passava por problemas de logística.

Nessa época já havia fábricas na região do ABC Paulista, lugar escolhido para a nova sede da Simca, que foi instalada em São Bernardo do Campo. “Na França havia em torno de mil carros, ninguém sabe exatamente, jogados. Como era o pós-guerra, o pessoal não tinha dinheiro, por isso optaram por carros menores. Então desmontaram os carros e trouxeram todos para cá”, afirma Munhoz.

Além dos carros, a sede francesa enviou os maquinários e assim a montadora se desenvolveu no Brasil. Ela produziu carros como o Alvorada, Chambord e Esplanada. Apesar de possuir um portfólio razoável de veículos para a época, a Simca não possuía muito dinheiro para investir e acabou ficando para trás.

“Com a chegada da Ford e outras marcas, ela perdeu espaço. Foi quando a Chrysler comprou a Simca lá na França e, consequentemente, a do Brasil também. Em 1966, quando pararam de fabricar o modelo Simca e saiu a Esplanada, começou o projeto da Chrysler. Finalmente em 1969, lança o Dodge Dart e, assim,  Simca deixou de ser fabricada”, conta Norian.

Coleção de carros

Norian Munhoz, de 66 anos, é um colecionador de carros, quase uma enciclopédia quando se fala em Simcas. Por falta de um, ele tem três veículos da marca, além de um  Ford C10 e um Landau. 

A paixão pela marca francesa vem de infância, que abriga uma de suas melhores lembranças. Norian nunca se esquecerá do seriado Vigilante Rodoviário, da extinta TV Tupi, cujo herói dirigia um Simca. 

Simca Tufão 1966

O Simca Tufão 1966, fabricado na primeira série do veículo, foi até abril daquele ano. A partir daquele mês, a montadora criava a segunda série mudando alguns elementos do veículo. Durante esses primeiros 4 meses foram fabricados em torno de 1500 e 1800 unidades, entre eles o modelo de Norian.

Um dos fatores que faz o Tufão de Norian ser tão raro, além do período que foi produzido, é o fato de o veículo possuir a tapeçaria, motor e manual originais, algo quase impossível de se pensar em um automóvel com mais de 50 anos.

A história do carro começa no Espírito Santo, segue para o Rio de Janeiro e termina na então recém-inaugurada Brasília. Na capital brasileira, o Simca ficou nas mãos do piloto do avião de Ayrton Senna e do governador Mário Covas, que foi quem trouxe o veículo para São Paulo.

Por possuir uma agenda muito corrida, o governador não tinha tempo para cuidar do carro e ele acabou em Londrina, Paraná, onde um sobrinho se encarregava dos cuidados. Em 2004, o carro foi encontrado por Norian e trazido para São Paulo.

“Eu precisei pintar, ela não foi restaurada, só repintada. Estava tudo certo, tapeçaria e motor, tudo original”, conta. 

Simca EmiSul 1966

O segundo Simca que Norian mostrou era o modelo EmiSul, também de 1966, mas lançado no segundo semestre. O veículo foi o primeiro a ter uma câmara de combustão interna fabricado na América do Sul.

O carro foi encontrado em Santo André, região metropolitana de São Paulo. “Eu tinha visto ele em 2004, mas na época a pessoa não queria vender. Em 2009, fiquei sabendo que ele estava vendendo e chegamos logo num acordo”, relembra Norian.

Ele conta que o veículo não estava com a cor original, que o motor estava aberto e alguns outros problemas. “Como eles deram um banho de tinta nele, não tiraram os vidros, frisos, não tiraram nada. Quando comecei a desmontar o carro, apareceram as marcas”. 

Apesar de um pouco danificado, o painel ainda é o original. Cheio de pequenas marcas circulares que deixaram uma parte do painel de vinil meio derretida por conta dos cigarros. “É coisa de moleque, a gente apagava o cigarro no painel do carro, eu lembro que cheguei a fazer isso”, relembra, justificando: “Quando eu vi as marquinhas, falei ‘não vou tirar porque são marcas do tempo’, e ficou até hoje”, completa.

Simca EmiSul 1967

Do outro lado da garagem mais um Simca, vermelho vibrante que lembrava os veículos de filmes como Grease. O EmiSul 1967 foi um dos últimos automóveis fabricados pela Simca e por isso é um dos mais raros, com apenas 272 unidades.

“Esse estava ruim, ele deu trabalho para fazer”, conta.

Como especialista em Simcas, Norian conhece poucos em estado para conseguir a placa preta, mais precisamente apenas 3 veículos. A restauração do veículo foi trabalhosa, quase a ponto de refazer o carro inteiro.

“Precisou fazer assoalho, a lateral, teve porta que precisou trocar, estava muito amassado. Ele era um hot, tinha motor de opala, era coisa que o pessoal judiava. Era mais fácil refazer a lataria do que ficar remendando”, relembra.

Foi necessário conseguir toda uma parte mecânica nova. Além disso, o assoalho foi trocado e a lateral traseira também. Munhoz conta que o próprio vendedor conseguiu uma boa parte das peças que faltavam, como o motor.

É um carro que, por conta da sua beleza única e sua raridade, já recebeu muitas propostas de compra, mas Norian não pensa em vender ele tão rápido. 

Outras paixões

Uma das outras paixões de sua garagem é uma caminhonete Ford C10, cuja trajetória desde a concessionária é acompanhada de perto por Norian.  Quando ele começou a trabalhar com seu pai, o dono da empresa na qual ele prestava serviço apareceu com a caminhonete nova que, literalmente, tinha acabado de sair da concessionária.

Um ano depois a pick-up foi vendida para o dono da empresa que ele trabalhava, desde então acompanha a caminhonete de perto. Nos anos 80, ele estava procurando um carro e conversando com o dono da companhia ele ofereceu por 500 cruzeiros, um valor baixo para época.

“Ele me disse: ‘me dá 500 cruzeiros, sob a condição de não sair daqui e vender lá na esquina, use ela para trabalhar!’ Eu acabei comprando.” Ele continuou com a caminhonete desde então a usa e é uma de suas favoritas.Em 2012, conversando com uns amigos, ele percebeu que sua caminhonete tinha condições de ser placa preta. Não precisou de muito mais. Mandou logo pintar a pick-up Ford e saiu desfilando por aí, ganhando alguns prêmios já desde os primeiros encontros que participou.

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