Felino brasileiro

 Felino brasileiro

Um carro brasileiro repleto de histórias e, principalmente, detalhes. Nascido em São Bernardo do Campo, esse carro já foi o veículo mais caro do mercado brasileiro, deixando para trás automóveis históricos como Opala SS, Passat TS, Maverick GT e Dodge Charger R/T. Esportivo, ele já foi vitorioso no Grande Prêmio das Américas, superando os consolidados Renault Dauphine e Willys Interlagos. Fundada por Genaro “Rino” Malzoni, a montadora usava chassi e mecânica de modelos conhecidos dos consumidores para construir suas máquinas, apelidada de Felino Brasileiro.

Essa história, uma das mais famosas e bonitas do setor automotivo brasileiro, começou quando a Vemag, fábrica de automóveis fundada no Ipiranga, em São Paulo, encomendou a Rino Malzoni uma carroceria de fibra de vidro para um carro esportivo. O protótipo, chamado GT Malzoni, ganharia, mais tarde, uma versão de rua.

Foi tudo isso que chamou a atenção de Waldo Fernandes, arquiteto de São Paulo, quando encontrou um Puma à venda na internet. “Quando eu vi fiquei babando nele. Decidi na hora que iria comprar um. Comecei a procurar outros anúncios e encontrei um cara vendendo no Rio de Janeiro. Liguei para negociar e ele me disse, ‘o carro tá novinho, só vou dar um tapa no motor’. Tudo mentira. Quando o carro chegou ele era uma carcaça, basicamente um chassi, todo descaracterizado. A primeira vez que eu liguei o motor, explodiu”.

Isso foi há treze anos. Desses, os três primeiros foram dedicados exclusivamente à restauração do carro, quando, depois de muita pesquisa, Waldo traçou um roteiro para alcançar a originalidade. “O que faz um carro diferente são os detalhes. Por isso fui atrás das bolhas do farol, dos bigodes, do friso do capô, do parabrisa, do limpador de parabrisa, das fechaduras, do espelho retrovisor, das setas, que são da picape Chevrolet D 20, e do friso do teto, que é do Alfa Romeo JK. Outro acessório bem bacana dele, sem contar as rodas de magnésio, que, na época, eram equivalentes as rodas de liga leve, e o estepe, preso com cinto de segurança, é o Volante F1 do Emerson Fittipaldi. Muita dessas peças, inclusive, eram de carros como o DKW-Vemag, o Fissore e o Corcel 1, por isso consegui encontrar bastante coisa na internet”.

O motor do Puma GTE oferecia 70cv, com velocidade máxima de 165 km/h.

Mas não é exagero dizer que essa foi a parte fácil do processo, já que o arquiteto precisou da ajuda de especialistas para concluir a restauração. “O painel dele tem uma história interessante. Ele é feito de madeira Jacarandá. Tive que ir atrás de um luthier para fazer. O banco canivete, de fibra, eu arrumei com um cara que ainda fabrica esse material e mandei para um tapeceiro. Para todos os vidros, procurei um vidraceiro que faz especificamente trabalhos para carros antigos. O mais complicado foi a carroceria. O cara me prometeu entregar em três meses, entregou em três anos”, conta.

Ano 69, motor 1500 com dupla carburação, quatro marchas. O motor do Puma GTE, que teve sua produção entre 1969 e 1980, oferecia 70cv, com velocidade máxima de 165 km/h. No total, foram 8.700 unidades produzidas, das quais, pouco mais de mil foram exportadas.

Entre os passeios de sábado e algumas viagens para Santos, o arquiteto diz que o Puma tem um único defeito. “O bom dele é o peso, bem levinho, tem só 700 quilos, quando a pista é um tapete fica uma delícia. O único problema é que ele acelera e depois não para, porque o freio é de lona. Por isso digo que ele é um carro ótimo para se deixar na sala de casa”.

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Agora, depois de treze anos e muita dedicação e dinheiro investidos, Waldo, que também é dono de um Karmann-Ghia e de uma CB 360 1976, quer vender seu Puma. “Eu quero vender para pegar um V8. Só que não vou me meter mais com restauração, quero pegar pronto. Ainda assim, penso que vender só pelo dinheiro não vale, por isso confesso não estou fazendo muita força para encontrar vendedor”, brinca Waldo.

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