O sonho de produzir o primeiro carro nacional em larga escala não saiu conforme o esperado; hoje existem apenas 2 exemplares do Democrata.
Refém das grandes montadoras estrangeiras, a indústria automotiva nacional estava em seus estágios iniciais na década de 1960. Nesse período, o jovem executivo Nelson Fernandes mergulhou no sonho de produzir aquele que deveria ser o primeiro automóvel fabricado em larga escala no Brasil: o Democrata.
No entanto, o projeto durou pouco. Em apenas cinco anos, o carro tornou-se um verdadeiro fracasso e nunca chegou a ser lançado no mercado. Foram construídas aproximadamente 20 carrocerias de fibra de vidro, e 5 protótipos, concluídos. Hoje existem apenas dois exemplares.
Nelson Fernandes, “pai” do Democrata, faleceu em 2020, aos 88 anos. Em 1963, ele fundou a Indústria Brasileira de Automóveis Presidente (Ibap), cujo objetivo era alcançar uma produção semelhante à da Volkswagen, ou seja, fabricar 350 veículos por dia.
A ideia inicial contava com três modelos, sendo o Democrata o principal deles. Todavia, cinco anos depois do surgimento, a empresa enfrentou uma série de polêmicas e problemas que resultaram em seu fechamento.
A tática utilizada para arrecadar o montante necessário para a fundação da Ibap tinha como base a venda de ações da empresa, que dariam aos compradores o benefício de adquirir o Democrata por um valor simbolicamente maior do que o preço de custo. Essa estratégia já havia sido usada por Fernandes em construções que duram até hoje.
Como naquela época não havia internet e redes sociais, o empresário teve de fazer uma peregrinação pelo País com um protótipo vermelho do veículo em uma carreta a fim de encontrar sócios.
Inicialmente, as coisas caminhavam bem, e Fernandes conseguiu viabilizar a venda de milhares de cotas. Cada comprador ganhava uma espécie de medalha com a logomarca da empresa.
Segundo relatos, a decepção com o carro foi grande. A proposta do Democrata era ser um carro esportivo, mas a suspensão e direção eram muito rígidas; o motor, por sua vez, esquentava demais.
O chassi dos primeiros protótipos eram baseados no reaproveitamento do Chevrolet Corvair, bem como a mecânica e a inspiração para o design da carroceria. Já o que seria a versão final contava com um motor de 120 cv. instalado na traseira. Ele se unia a uma transmissão manual de quatro velocidades, além de um chassi exclusivo, ambos produzidos sob encomenda na Itália.
Além disso, o modelo tinha dois carburadores, tração traseira, freios com tambores e suspensão independente das quatro rodas.
Ao instalar a fábrica em São Bernardo do Campo (SP), Nelson Fernandes chegou a contratar 120 funcionários, mas já enfrentava forte pressão do governo federal e da imprensa. Sob alegação de contrabando, 500 unidades dos motores italianos foram apreendidos pela Receita Federal. A empresa também foi acusada de golpe em investidores, o que resultou na abertura de uma CPI.
Para piorar, uma vistoria do Banco Central concluiu que a Ibap não possuía nem mão de obra especializada para a fabricação de veículos em larga escala, nem contrato com os fornecedores.
Assim, restou à Ibap fechar as portas, deixando todos os componentes veiculares trancados no galpão da fábrica por aproximadamente duas décadas. Só após esse intervalo a Justiça liberou a entrada de Fernandes para acesso ao espólio da empresa.
No final dos anos 1980, os irmãos José Luiz e José Carlos Finardi compraram os componentes e carrocerias de Nelson Fernandes, a fim de montar os dois exemplares funcionais que hoje sobrevivem.
Uma das unidades, de cor verde, está em Brasília. O veículo fazia parte do conjunto do Museu do Automóvel, sob curadoria de Roberto Nasser, jornalista e autor do livro “Democrata: o Carro Certo no Tempo Errado”. Mas posteriormente o modelo foi vendido a um colecionador.
O outro Democrata é vermelho e tornou-se propriedade dos irmãos colecionadores Róberson e Rogério Azambuja. Atualmente, o automóvel está exposto no Museu do Automóvel de Canela (RS), fundado por eles. Segundo Róberson, trata-se do mesmo modelo que atravessou o Brasil na carreta de Nelson Fernandes.
Como é de se esperar, ainda existe uma série de divergências sobre as intenções de Fernandes. Alguns acreditam que ele teria sido um visionário injustiçado, engolido por perseguições e dono de uma certa ingenuidade para os negócios. Já outros o apontam como golpista. Ambas as partes concordam, porém, que ele foi um grande sonhador.
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