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Duas paixões: futebol e carros

Futebol e carros são as paixões do brasileiro segundo o ditado popular. Porém isso não é uma exclusividade nossa. Longe daqui, esses dois elementos se misturam. Já imaginou torcer para o Fusca Futebol Clube? E se o seu maior rival fosse o Esporte Clube Gurgel? No Irã, um país da Ásia, o futebol e os carros podem ser considerados um só. Duas montadoras dessa nação resolveram entrar para o esporte e mesclaram o esporte com a indústria automotiva.

Paykan F.C.

Fundada em 1962 pelos empresários Ahmed e Mahmoud Khayami, com forte subsídio do governo, a Iran National montava ônibus a partir de chassis importados da Alemanha. Em 1966, a história da fabricante mudou quando assinou um contrato com a britânica Rootes para produzir um sedã chamado Paykan. É aí que o futebol entra na história.

Em 1967, Mahmoud Khayami resolveu fundar o Paykan, clube que recebeu o nome do carro que estava sendo lançado naquele ano no Irã. O objetivo inicial dele era promover a Iran National, sua empresa e montadora do país asiático, e seus automóveis, principalmente o que batizava o time de futebol.

Para entender o que é o Paykan para o iraniano é preciso saber sobre o modelo. Ele foi produzido ininterruptamente entre 1967 e 2005. O carro era um Hillman Hunter (Rootes Arrow) feito sobre licença na nação asiática e teve diversas variações no Irã. Era extremamente popular e muitos táxis na nação ainda utilizam o veículo, desde as últimas versões até os mais antigos que ainda rodam pelas ruas. No começo, o automóvel nacional do país utilizava um motor 1.7 de origem britânica e depois passou a ser um motor Peugeot com 1,6 litro de deslocamento e 65 cv. Comparando, seria como o Fusca para o brasileiro, porém fabricado por uma marca nacional.

A companhia, renomeada como Iran Khodro depois de 1979, é a maior montadora do Oriente Médio, e deve isso ao modelo Paykan. Porém esse domínio não é refletido no futebol local. Atualmente na primeira divisão do Irã, o Paykan F.C. nunca conquistou um título nacional, apenas na segunda divisão, em duas oportunidades (2012 e 2016), e a liga da cidade de Teerã em 1969. Isso também se deve ao fato de que o clube se afastou da modalidade entre 1970 e 2000.

A praia do clube é o vôlei, segundo esporte mais popular no Irã. O time masculino do Paykan foi campeão iraniano em 12 oportunidades. Fora de suas fronteiras, a equipe conquistou sete vezes a principal competição da Ásia, o Campeonato de Clubes. Além disso, em 2010, os iranianos ficaram com o terceiro lugar no Mundial de Clubes.

Saipa F.C.

Já em 1989 foi fundado o Saipa F.C., de propriedade da montadora com o mesmo nome. As letras na realidade são uma sigla: Sociedade Anônima Iraniana de Produção de Automóveis (originalmente escrita em francês, já que no começo servia como uma fábrica da Citroen no país).

A fabricante foi criada em 1965 e montou diversos automóveis franceses, coreanos e japoneses. O Saipa Saba, um dos modelos mais populares da marca, é baseado no Kia Pride. É a segunda em popularidade no Irã, o que significa que está atrás da Iran Khodro nesse ranking.

No futebol, o clube é mais bem sucedido que o da montadora rival. O Saipa F.C. é tricampeão iraniano (1994, 1995 e 2007), e já chegou às semifinais da Liga dos Campeões da Ásia em 1995. Além disso, o clube já contou com um dos maiores jogadores iranianos, Ali Daei, que fez história na seleção nacional e jogou por muitos anos no futebol alemão, defendendo times como o Bayern de Munique e Arminia Bielefeld.

As torcidas

Saipa e Paykan fazem um duelo automotivo no campeonato nacional, mas a partida não é considerada um clássico das quatro rodas pela falta de torcedores. Quem explica é Sina Saemian, iraniano que vive em Manchester, na Inglaterra, membro do podcast Gol Bezan, que é focado no futebol do seu país.

“Ambos os clubes são originalmente de Teerã, capital do Irã. O problema é que a cidade tem dois times tradicionais e com duas das maiores torcidas de toda a Ásia: Persepólis e Esteghlal. Então a divisão de torcedores não favorece Saipa e Paykan, que tem pouquíssimos fãs. A maioria das pessoas não se identifica com as equipes. Apesar disso, os dois nas últimas duas décadas, principalmente o Saipa, são um exemplo de como se administrar uma agremiação esportiva”, explica Saemian.

“Eles não são vistos como rivais de nenhum outro clube. A maioria das rivalidade no Irã são por motivos geográficos, e a cidade de Teerã já tem o seu grande clássico entre Esteghlal e Persepólis˜, afirma. “A federação iraniana tentou um experimento horrível de realocar alguns clubes para descentralizar o futebol de algumas cidades e ajudar os times a ganhar torcedores. Saipa e Paykan fizeram parte disso. O Saipa foi para perto da cidade de Karaj, enquanto o Paykan mudou-se para Qazvin, mas não deu certo. Ambos já voltaram a Teerã”, complementa.

Mesmo que os clubes da indústria automotiva tenham poucos torcedores, Sina Saemian confirma que o iraniano tem as mesmas paixões que o brasileiro: “carros definitivamente são massivamente populares no Irã”.

As indústrias e o futebol

Além do Paykan e Saipa, diversos clubes do Irã são gerenciados por outros setores importantes da economia do país. Por exemplo, o Sepahan e o Zob Ahan, ambos da cidade de Isfahan, são administrados por siderúrgicas, enquanto o Sanat Naft, apelidado de “Brasil do Irã” por conta do seu uniforme amarelo, é de uma petrolífera estatal.

“A maioria dos clubes iranianos é administrado por companhias e tipos de indústria específicas, poucos são privados. Isso acontece porque são os únicos que têm condições de manter um clube de futebol competitivo. Até os maiores times daqui, Esteghlal e Persépolis, são comandados pelo Ministério dos Esportes”, explica Saemian.

O time do trator

Diferentemente do Paykan e do Saipa, existe um clube que também tem raízes nas quatro rodas e é um dos mais populares do Irã. Em vez de automóveis de passeio e comerciais, a indústria que move esse time é a dos tratores, a Iran Tractor Manufacturing Company (ITMCO). Sediado em Tabriz, o Tractor Sazi é representante da etnia azeri, um dos povos que forma o Irã.

“Provavelmente eles são o terceiro clube mais popular do Irã, mas é por conta do time ser sediado em Tabriz. A maioria da população vê eles como representante da etnia daquele lugar, mesmo que o nome da equipe signifique literalmente Fabricantes de Tratores”, conta Saemian.

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